IX



O Centro De Turismo




A Capital Brasileira da Fé é considerada um dos maiores centros de peregrinação do mundo.Eis o motivo principal para transformá-la num grande local de turismo.Como se encontra, a cidade de Aparecida é um escândalo de miséria. Miséria de higiene nos insuficientes restaurantes. Miséria nos sanitários integrados numa miserável e obsoleta rede de esgotos que despeja o volume de detritos no Rio Paraíba, emporcalhando as águas onde fora descoberta a rica imagem e que serve para dessedentar e envenenar a população.



Miséria de água, porque além de poluída, se esforça por chegar às torneiras através de um serviço hidráulico de mais de 30 anos passados. Miséria de planejamento, a causa de subir o casario colina acima, saturando desordenadamente a topografia.Um grupo investidor da Capital Paulista decidiu aplicar bilhões de cruzeiros no intento de tornar a cidade-santuário no principal centro de atração turística e religiosa da América do Sul.



"Empreendimentos Nossa Senhora Aparecida" é a sociedade limitada que se propõe a, numa área de 40 alqueires, construir o Parque de Aparecida, o super-centro turístico-religioso. Nele encontrar-se-á tudo para uma permanência mais prolongada dos romeiros e turistas na cidade. Planejam-se terrenos ajardinados, arborizados e urbanizados, com locais próprios para as crianças brincarem e guardas especialmente treinados para cuidar delas. Uma lagoa com barquinhos, aves decorativas e pequenos iates para passeios fluviais pelo Paraíba completarão o panorama ecológico. Um jardim zoológico e outro botânico exibirão a fauna e a flora brasileiras. Um museu iconográfico exporá as imagens mais veneradas em todas as regiões do Brasil. Capelas votivas recolherão os ex-votos. Reproduzir-se-ão os mais famosos santuários do mundo (Fátima, Lourdes, Guadalupe, El Pilar e Luján) facilitando a organização de festas religiosas com a participação das colônias correspondentes no Brasil. Lances da História Pátria serão recordados na cidade colonial, com instalações nos moldes da Disneylândia, que reproduzirão fortes e outras construções do Brasil Colônia, e pequenas lagoas terá réplica das caravelas de Cabral. Uma estação rodoviária, dotada de "shopping center" bares e restaurantes, receberá os ônibus de excursão. Repetir-se-ão por todo o Parque as casas de lanche, churrascarias, estacionamentos e postos de serviço. Instalar-se-ão motéis para hospedagem de famílias com carros em pequenos bangalôs. Um enorme e confortável hotel oferecerá acomodações completas para as classes A e B. Um teatro com concha acústica e auditório ao ar livre apresentará peças de temas religiosos, cívicos, clássicos e folclóricos, e também concertos musicais, danças típicas e missas campais. Charretes e trenzinhos conduzirão os devotos-turistas a diversos passeios. Um bondinho aéreo do tipo monotrilho circulará por toda a extensão do Parque e também fará ligação com as duas basílicas, propiciando nas estações elevadas mirantes e bares. A Associação dos Romeiros de Aparecida, uma entidade religiosa já existente, terá a sua sede social, com restaurantes, piscinas, salas de repouso e de leitura, campos e quadras para a prática de esportes diversos, auditório, cinema, capela e outras dependências.

O grupo "Empreendimentos Nossa Senhora Aparecida" lançou em fins de 1967 o projeto mirabolante.


No dia 6 de janeiro de 1968, o cardeal Agnelo Rossi, então arcebispo de São Paulo, celebrou missa no Mosteiro de São Bento a impetrar o amparo da Senhora Aparecida sobre os idealizadores presentes e genuflexos. Benzeu a maquete e os projetos da ARA ("Associação dos Romeiros de Aparecida") e entronizou a imagem aparecídica nos escritórios centrais da ENSA ("Empreendimentos Nossa Senhora Aparecida"), instalados em São Paulo, à Rua Boa Vista, 314. Fecundados os projetos e os planos com as bênçãos cardinalícias de Agnelo Rossi, a ENSA passou a promover a venda de quotas de valor imobiliário e comercial capazes de oferecer o direito à participação nos lucros em forma de renda mensal crescente e reajustável. A vasta propaganda feita pela grande imprensa, sob o título: "VAMOS TRANSFORMAR APARECIDA NA MAIOR CIDADE-SANTUÁRIO DO MUNDO", anunciava: "O preço de lançamento da QUOTA TOTAL é de Cr$655,00, fixo e não reajustável, a ser pago da seguinte forma: Cr$55,00 de entrada e 30 prestações mensais de Cr$20,00. Propunha-se a ENSA dar imediato início às obras, que deveriam ser entregues por etapas e concluídas totalmente até 1970.
Decerto a bênção de Agnelo Rossi redundou em maldição, pois já nos encontramos em fins de 1974, quando se prepara a 10ª Edição deste livro, e as obras nem começadas foram. Continuam restritas à maquete e aos engavetados projetos. Quem sabe se no futuro outra bênção cardinalícia será mais forte do que a do Rossi ou a Senhora Aparecida se compadecerá de outros empreendedores propiciando-lhes a exploração de um negócio rendosíssimo.