Durante três anos freqüentei assiduamente a basílica e jamais vi um milagre... Milagre, milagre mesmo, isto é, ressuscitar um morto, como Lázaro (João 11:1-45), dar vista a um cego de nascimento (João 9:1-7), fazer aparecer um braço no lugar do amputado, colocar um pulmão novo no lugar do extraído... ela nunca fez! A Senhora Aparecida é tão incapaz em matéria de milagre que é uma coitada! Garanto que, se cair so seu nicho, espatifar-se-á no chão!!! A sua cidade está cheia de aleijados, estropiados e cegos a mendigar pelas ruas. Se os padres abastados de ouro e dinheiro não os socorrem porque são avarentos, a Senhora Aparecida, de sua parte, nem lhes dá atenção aos gemidos. Ela é tão coitada que não tem poder nem de curar de lombrigas as crianças dos seus devotos. Por isso, a sua emissora faz propaganda de vermífugos. Frustra-se o diabético que se socorre de sua valia... Os padres da basílica, então, reconhem-na tão fraquinha que, por meio do seu jornal, lhe recomenda o "corpo medicinal". Reconhecem-na tão ineficiente que, aos devotos alcoólatras, aconselham produtos farmacêuticos. O "Santuário de Aparecida", "órgão oficial da Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida", desapontou-se tanto com a impotência da "incomparável" milagrenta que, a par da propaganda de produtos farmacêuticos, veiculada em suas poucas e desengonçadas páginas, abriu um "Consultório de Medicina Caseira", sob a responsabilidade do Frei Esculápio.
Ainda mais desapontados devem estar os seus devotos com a retumbante demonstração de impotência da "incomparável senhora" verificada na oportunidade da fuga da ursa "Negrito" de sua jaula. Os supersticiosos cismam com o dia 13 e pior ainda quando cai de sexta-feira. Para aumento do medo deles o fato ocorreu no dia 13 de setembro, sexta-feira, de 1968. Um cidadão aparecidólatra, residente em Avaré, Estado de São Paulo, leu esse fato numa das edições anteriores deste livro. REvoltado, quis uma entrevista comigo. Interrogado sobre a fonte de informação a respeito, retruquei-lhe com a pergunta sobre o jornal que considerava mais sério e absolutamente idôneo em suas notícias. Respondeu-me ser "O Estado de São Paulo", "um dos jornais mais importantes do mundo". Eis o relato desse órgão da imprensa paulista em seu exemplar de 14 de setembro de 1968: "A ursa 'Negrito' escapou ontem de manhã de sua jaula no Zoológico de Aparecida do Norte, impôs à cidade três horas de pânico e medo, e acabou sendo capturada graças à habilidade do "capitão Álvaro", domador do Circo Berlim, ora se exibindo na cidade. Uma guarnição do Corpo de Bombeiros e tropas da Força Pública e da Escola de Aeronáutica foram enviadas com urgência ao local". Depois de pormenorizar a fuga, prossegue o órgão: "A notícia espalhou-se, rápida, pela cidade, causando pânico. O socorro veio rápido também: Corpo de Bombeiros, soldados da Força Pública e da Escola de Aeronáutica da FAB, e todos os que supunham ter condições de ajudar. Evitou-se atirar em 'Negrito', mas o trabalho para recapturá-la foi exaustivo e cheio de perigos. Por volta de meio-dia e meia todos já estavam ficando exaustos e desalentados, quando o domador 'Capitão Álvaro', usando o laço com habilidade, conseguiu imobilizar a fera. Sangrando um pouco no focinho, 'Negrito' voltou à jaula, vigiada, agora, com atenção redobrada". Por que a mobilização de tantas forças? Por que tamanho aparato bélico? Lá não estaria a "santa" Aparecida para proteger os habitantes da cidade onde se instalou o seu trono? Não é ela a "incomparável" protetora? Acaso assustara-se a Cidoca com os 2 metros de altura e os 480 kg de peso da fera, que come, por dia, 40 kg de polenta, 20 de maçãs, 5 de verduras e 1 litro de mel? A "incomparável" protetora nem se apiedou do pobre veadinho-campeiro estraçalhado pela ursa, que, na hora da fuga, o arrancou da jaula. Porque nenhum aparecidense confia realmente na "santa", o alívio só aconteceu quando todos se certificaram do reenjaulamento do animal feroz. A Senhora Aparecida, no entanto, foi desmoralizada na sua impotência com a manchete de alguns jornais: "Ursa Causa Três Horas de Pânico" (O Estado de São Paulo de 15/9/68); "Diabo Esteve à Solta 3 Horas em Aparecida do Norte" (Diário da Noite, de igual data). Em Aparecida se concentram, por ser excelente mercado, numerosos vendedores de bilhetes de loteria federal. Preferem os devotos-romeiros fazer a sua fezinha na SANTACAP porque, quem sabe, o palpite será abençoado pela "incomparável" Senhora com a sorte grande. No dia da fuga da "Negrito" todos os gasparinos foram vendidos e os bilheteiros ficaram impossibilitados de atender o enorme volume da procura. O resultado da loteria, porém, desapontou os apostadores: não "deu urso"!
A SANTACAP é o reduto da idolatria com todas as suas trágicas conseqüências. Como IDOLATRIACAP é ROUBOCAP. EXPLORAÇÃOCAP. MISÉRIACAP. PROSTITUIÇÃOCAP. DESGRAÇACAP. Os ladrões e marginais agem dentro e fora da basílica. Lá estão os lanceiros batendo carteiras. E que autoridade têm os padres redentoristas se querem coibir semelhantes crimes? Se eles exploram a credulidade pública! A exploração desbragada campeia no comércio. Nas lojas, inclusive dos clérigos, o que controla o preço é a aparência do freguês, que nem sempre consegue nota fiscal da mercadoria comprada. Faz milagres a Senhora Aparecida? Por que, então, não purifica o ar de sua cidade, empestado pelo mau cheiro exalado do Rio Paraíba, onde se despeja o esgoto da cidade? Por que ela não cura os miseráveis que se arrastam, mendigando, pelas ruas, como opróbrio da humanidade? Será que tão dolorido espetáculo não a comove? Por que ela não faz o milagre de converter os padres em seres mais humanos? Por que ela não sensibiliza os seus devotos romeiros excitados pelas raparigas, em número elevadíssimo, impedindo-os de entrar nos bordéis, onde se corrompem os corpos com a sífilis e doenças venéreas? Por que ela não regenera essas desgraçadas mulheres traficantes de suas próprias carnes? Essas mulheres que se instalam em Aparecida exatamente por ocorrer lá maior procura do que a oferta? Sim! A responsabilidade de tantas misérias materiais e morais recai sobre a idolatria, ensinada, divulgada, incrementada e explorada pelo clero...
A Senhora Aparecida é uma "incomparável" ingrata! Permite que recaiam sobre a sua cidade e o Vale do Paraíba as piores desgraças justamente quando lhe são oferecidas as mais solenes homenagens. Não se constrói agora a sua grande basílica, um dos templos mais soberbos do mundo? O povo não tem aumentado as romarias em sua honra, quando em multidões se prostra adorante aos seus pés? Não lhe foi oferecida uma ROSA DE OURO, símbolo do seu título de Rosa Mística e munificência do papa, o cognominado vigário de Cristo na terra? Para o seu culto o povo pobre não tira da miséria dos seus filhos? Ingrata!!! Sim, ingrata, mil vezes ingrata que ela é!!! No Vale do Paraíba nunca se ouviu falar em esquistossomose. Mas, em 1953 – no ano seguinte ao do início das obras da nova basílica – aconteceu o primeiro caso. E hoje a esquistossomose infesta todo o Vale do Paraíba. A praga está ali debaixo dos olhos da "miraculosa" Senhora, minando a saúde de milhares e milhares de pessoas. Já em 1967, no ano da entrega da ROSA DE OURO, o Instituto Adolfo Lutz, de Taubaté, informou haver na região da Senhora Aparecida, 2.161 casos comprovados de doentes de esquistossomose, distribuídos da seguinte forma, cidade por cidade:
Taubaté: 474 | Roseira: 359 | Jambeiro: 30 | Mont.Lobato: 2 |
Tremembé:107 | Guaratinguetá: 40 | S.J.dos Campos: 243 | Cach.Paulista: 2 |
Pinda: 500 | Lorena: 7 | Santa Branca : 14 | Quiririm : 1 |
Aparecida : 118 | Caçapava: 152 | Jacareí: 4 | Red. da Serra: 5 |
Note-se: a incidência do mal se acentua nas cidades mais próximas de Aparecida. Roseira, a mais próxima, por exemplo, dentre todas, se não é a menor, é uma das menores. E, em 1967, apresentou 359 casos diagnosticados!
A ingrata recompensou a sua região, em 1968, logo depois de haver recebido a rósea e áurea honorificência pontifícia, com uma longa seca. Pelo seu poder de "incomparável Senhora" se vinga dos devotos valendo-se até da meteorologia. Em Dezembro de 1967, a leitura mínima do nível do Rio Paraíba foi de 2,66m. Em 1968, no segundo domingo de dezembro, o rio tinha o seu nível fixado em 1,50m; caindo no dia 16 para 1,48m pela manhã e 1,40m à tarde. A barragem de Santa Branca, pertencente ao grupo Light (a grande empresa da energia elétrica dos principais centros industriais e populacionais do País: São Paulo e Rio de Janeiro), é uma das obras regularizadoras do Rio Paraíba. Seu objetivo é o de gerar energia nas usinas que integram o aproveitamento do Ribeirão das Lajes, abastecendo várias indústrias, como a Usina Siderúrgica Nacional, sediada em Volta Redonda. Sua capacidade é de 424 milhões de metros cúbicos por segundo e sua vazão média, no local da barragem, é de 78 metros cúbicos por segundo. Em 1968, porque os índices pluviométricos foram muito abaixo do normal, faltou água para cobrir aquela capacidade, provocando enormes prejuízos às populações trabalhadoras da região e ao próprio País. Se a ingratidão da "santa" se revelou nessa longa estiagem, manifestou-se também com o forte temporal desabado durante meia hora apenas, em 26 de dezembro de 1968, inundando toda a parte baixa de Aparecida, e derrubando, em conseqüência, muitas casas. Casas dos pobres. Daqueles que conservam afixada na porta ou na parede da sala, a oração: "Oh, incomparável Senhora..." Retribuiu a Senhora o início das obras de sua majestosa e arquibilionária basílica, em 1953, com o início da esquistossomose no Vale do Paraíba, a proliferar assustadoramente. Que se cuidem as autoridades sanitárias porque da Senhora Aparecida, os seus devotos só podem esperar ingratidão. Que se cuidem essas autoridades porque de Aparecida as multidões de romeiros ávidos das "graças", voltarão para suas cidades, levando, como desgraçado presente o vírus da esquistossomose...
Retribuiu a Senhora a ROSA DE OURO com aquela longa estiagem e com a tromba d'água.
Em 1968, além da estiagem e da tempestade, os focos de morcegos portadores do vírus da demosdina, cooperaram com a ingrata, cuja basílica havia sido enriquecida com a ROSA DE OURO, espalhando outra vez o terror nas regiões aparecídicas.
A Senhora Aparecida faz-nos lembrar o mandamento do Senhor:
"Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há encima nos céus, nem embaixo da terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que Me aborrecem, e faço misericórdia em milhares aos que Me amam e guardam os Meus mandamentos: (Êxodo 20:4–6).
Deus não tem o culpado por inocente (Êxodo 34:7). E a Sua Glória não dá a outrem (Isaías 48:11). Nem à Senhora Aparecida! E muito menos à Senhora Aparecida!!!
A santa aparecida no Porto de Itaguassú, em 13 de outubro de 1717, foi um estratagema do falsário e ambicioso clérigo José Alves Vilela. A sua trapaça, porém, foi tão mal feita que o clero, nesse legado de abusões, não encontrou ainda elementos para transformar a fraude em matéria de fé. Até mesmo para esconder a estátua disforme, cobre-a, de alto a baixo, com um manto azul, preso com a coroa de ouro, o que lhe dá o formato de um triângulo. Apesar de tudo, porém, vão os padres enganando o povo crendeiro. A atitude favorável a essa devoção, por parte do clero, visa exclusivamente a exploração comercial dos supersticiosos. O monge beneditino, Estevão Bettencourt, sócio dessa empresa de especulação da credulidade pública, afirma que "a bem da verdade, deve-se notar que tal atitude favorável é independente de qualquer pronunciamento da autoridade eclesiástica sobre a genuidade dos prodígios que se narram em torno da Virgem e do santuário de Aparecida" (In PERGUNTE E RESPONDEREMOS – 71/1963, questão 5). "A bem da verdade..." Leiam-se de novo as declarações do monge Bettencourt! Que coisa!!! Os reverendos proclamam tanto a eficiência da devoção à Aparecida de terracota, divulgam os seus "milagres" e expõem, em sala adequada, tantos ex-votos e não podem sair desta: nem esses "milagres"merecem qualquer pronunciamento oficial sobre a sua genuidade... Pestes, tempestades, doenças, secas, a "ingrata" não pode impedir... E permite – o que é pior de tudo – sejam assim ludibriados os seus devotos! É mesmo uma trapaça essa Senhora de terracota! Desde menino, ouvi muitas vezes o milagre da libertação de um escravo na hora de ser, preso ao tronco, retalhado com chicote em castigo de sua fuga. Foi mentira! Isso não aconteceu. Se quem nega a veracidade desse episódio, fosse um evangélico, logo sofreria insultos dos carolas fanáticos.
Mas, quem diz ser isso uma mentira, uma lenda fantasiosa, é o devoto Fred Jorge, em seu livro: "APARIÇÃO E MILAGRES DE NOSSA SENHORA APARECIDA" (Editora Prelúdio Ltda., São Paulo, 1954). Este livro foi sacramentado com o Imprimatur, que, por delegação do cardeal e sob a chancela da cúria paulopolitana, lhe apôs o cônego J.LafaYette, posteriormente bispo auxiliar da Capital de São Paulo, e, em seguida, bispo diocesano ("ordinário") em Bragança Paulista. Esse mesmo livro, sacramentado, indulgenciado e "aguabentado" por um solene Imprimatur do ordinário paulista, diz que, "para enumerar todas as graças concedidas seriam precisos muitos volumes de milhares de páginas..." (pág. 20). Propõe-se Fred Jorge colher alguns dentre aquela quantidade enorme, a fim de apresentá-los aos leitores. Contudo, por falta de autenticidade e seriedade nesses tantos, apresenta, uns poucos apenas, esclarecendo a sua necessidade de usar de fantasia (página 22). É! Depois de tanta fanfarronada, confessa-se fantasmagórico!
Teve razão aquele padre da basílica que, em princípios do ano de 1961, disse-me, referindo-se à Aparecida:
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